9.9.05

5 Segundos Eternos



Tarde chuvosa, cinza.
Mais ou menos 16:30.
Ela pára na calçada, subitamente.
Ele sobe as escadas do metrô, num ritmo constante.
Ela procura o celular na bolsa, podia jurar que ele tocou.
Ele segue seu caminho pela calçada, decidido.
Ela não acha o celular, mas acha o batom. Retoca a maquiagem no reflexo do vidro da loja de esquina.
Ele anda agora a passos largos, já que o número de pessoas na calçada diminuiu.
Ele guarda o batom, fecha a bolsa, dá uma última olhada no reflexo do vidro e sai.
Ele está quase chegando na esquina.

E então aconteceu.

Ainda bem que não tinha muita gente na rua, pois ela ficou cara-a-cara com ele, numa colisão igualada somente ao 11 de setembro.
E assim ficaram, por mais ou menos 5 segundos.

Ele olhando para ela, para a bolsa que caiu no momento do impacto, para a fenda na parte de trás da saia que insistiu em se abrir quando ela foi ao chão, para o decote da blusa preta quando ela se levantou, e para aquela pele de veludo que insistia em se mostrar, branquinha. Por fim, para a boca. Vermelha. Não um vermelho qualquer, mas um vermelho escuro brilhante, sedutor, convidativo. E parou aí.

Ela olhando para ele, pros sapatos, pra calça (e conseqüentemente o volume dentro dela), pra blusa azul social, pro pescoço, sente o cheiro dele hipnotizando-a de leve quando ele se abaixa para ajudá-la, e as mãos dele, quentes, em seus braços, puxando-a para cima. Olha pra boca, e por fim, para os olhos. Verdes. E quase morreu afogada naquele verde piscina. E parou aí.

Então ele olhou para ela. Ou melhor, para os olhos dela. Cor de mel, dignos de uma leoa.

Eles não esperavam aquilo: uma coisa tão banal, como um encontrão na esquina, provocando a ebulição de tantos sentimentos.

Sorriso mútuo, cumplicidade estabelecida.

Ela pedindo desculpas, e ele também, enquanto perguntava se estava tudo bem com ela, se tinha se machucado. Ela apenas sorria e abanava a cabeça, tentando olhar para o chão.

Ela não podia evitar, tinha que olhar para todo o resto dele: as pernas, os braços, as mãos, imaginá-las no seu corpo, fazendo tudo com arte e leveza, denunciando o que estaria por vir. Não conseguia tirar os olhos daquele corpo, parar de imaginá-lo por cima do seu. Queria sentí-lo até os ossos, com os requintes de uma loba que desfruta sua presa sem pressa.

Ele também não podia evitar, não conseguia desviar seus olhos daquela pele pálida por dentro do decote, ao mesmo tempo aveludada, que pedia um olhar, um toque, um beijo e algo mais. Sentia-se impelido a agarrar aquela criatura à sua frente como se fosse a última do planeta, para devorá-la inteira, sem a menor pena.

Então voltaram ao mundinho real.

Ela ajeitando a saia, apoiando melhor a bolsa no ombro. Passou a mão de leve nos cabelos ondulados, tentando apagar todos aqueles pensamentos dos últimos 5 segundo da memória. Sentiu o cheiro dele na sua blusa. Não pôde evitar fechar os olhos. Abriu-os, olhou-se no reflexo do vidro.

Ele também se recompôs, ajeitou a blusa, olhou a mancha de batom que ficou na manga da camisa. Não pôde evitar o sorriso. Também olhou no reflexo do vidro.

Olharam-se pela última vez, sorriram um para o outro, e foram embora. Em direções opostas.

Cada um para o seu lado, com o baú de desejos guardados, emoções contidas dentro de um frasquinho chamado corpo. Prontas para entrarem em ebulição na próxima trombada.

"Eu te imagino, eu te conserto / Eu faço a cena que eu quiser / Eu tiro a roupa pra você / Minha maior ficção de amor / E eu te recriei / Só pro meu prazer"
(Leoni - Só Pro Meu Prazer)


O Ministério da Saúde adverte: aprecie tudo sem moderação

7 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Gente, a sra, atacando nos contos, eh?

Micha Descontrolada disse...

EEEEEEEEEEeee q bom q voltou.
beijosssssssssssss

Anônimo disse...

mmmmmmmmm... gostei!

bjs, k.

Anônimo disse...

HEY!!! kd vc, senhora??

ocupada com mtas injeções de insulina neste fim de ano!?

:o)

Anônimo disse...

Seus posts estavam tão legais...porque não volta a atualizar Rê?? correria da vid né? eu me obrigo a não abandonar meu blog, tenho que manter algo da minha vida antes da gravidez...e ser a Viviane e não a mãe da Vivielly simplesmente...
bjão!